Valciãn Calixto
Axé Punk, Afropunk, Rock, Spoken Word, Experimental, Alternativo
Daí a montar uma banda, o passo foi talvez o mais curto de sua vida. “Em 2012 minha primeira e única banda, a Doce de Sal, firmou uma formação que é a que se mantém até hoje, quer dizer, éramos eu na guitarra, Lucas Martins na bateria e Francis no baixo, depois ele saiu e entrou o Guilherme Filho”, lembra. Com o grupo, Valciãn gravou uma fita demo muito pouco divulgada e lançou três singles, um deles, “Menina do Olho de Opala”, com participação de Igor Filus, da curitibana Charme Chulo.
Os shows pela cidade, em eventos quase sempre organizados pelas próprias bandas, colocaram ainda que maneira arredia, a Doce de Sal na cena musical teresinense. “Acontece algo estranho que é no sentido de você não poder comentar a produção local, não poder questionar o processo de seleção para eventos públicos e festivais culturais aqui em Teresina que você é logo tido como o negativo, o que só sabe criticar, nisso você é meio que excluído e sempre nivelado por baixo, isso é padrão por aqui e um artista padrão está muito longe do que eu imagino que deva ser um artista, embora ele possa ser o que quiser, inclusive padrão”, comenta.
Para não se isolar, Valciãn junto de mais alguns comparsas, formou o que conheceremos como Geração TrisTherezina, coletivo com artistas visuais, escritores e músicos do Piauí, dentre eles Joniel Santos, que lançou uma HQ totalmente autoral no Festival Internacional do Quadrinho – FIQ em Minas Gerais no ano passado chamada Beeline. Ainda em 2015 Valciãn publicou seu primeiro livro, “Reminiscências do caseiro Genival” e, após encerrar a primeira tiragem da obra, foi logo soltando o single dissonante “Teoria do Abacaxi”, para anunciar o disco solo que será lançado esse ano.
Portador do mal de sua época, a ansiedade, liberou recentemente mais uma mostra do álbum, “Núcleos de um Romance Engavetado”, revelando seu lado experimental numa faixa de sete minutos com participação de amigos e integrantes da Geração TrisTherezina relatando casos diários de assédio moral e sexual à mulheres de todo o mundo. “É uma música bastante amarga e tensa, mas de abordagem bem necessária para esses nossos dias”, conta.
Influenciado por nomes como C.W. Stoneking, Elizeth Cardoso, Jimi Tents, Algiers e Timbalada, o piauiense conta que as dez faixas de seu debut carregam um conceito que mistura desde a agressividade do punk aliado a melodiosas formas e possibilidades rítmicas do axé, resultando naquilo que o músico costuma chamar de “Axé Punk”.
O álbum, em processo de finalização no ATM Estúdio em Teresina, tem produção do músico Arthur Raulino, direção e arranjos do próprio Valciãn, que gravou todos os instrumentos de harmonia como guitarras, baixo e teclados, tendo a bateria ficado a cargo de seu irmão, Marciano Calixto.
Gravado da maneira mais independente possível, sem gravadora, edital, lei de incentivo nem nada, Valciãn lembra que precisou vender guitarras e alguns pedais para pagar as gravações, esforço que nos diz muito sobre o artista do Piauí que começa a aparecer para o Brasil da melhor maneira possível, produzindo muito.
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