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Lançamento do CD Laura Jannuzzi: “Ondes”, por Nathan Itaborahy

Convidado: Nathan Itaborahy revela um bate papo sobre "ondes"

 
 
 

Periodicamente um convidado especial se junta ao Show Música para contribuir conosco e trazer uma visão diferenciada para nossos leitores. Nesta semana,  Nathan Itaborahy, geógrafo, músico, baterista da banda Blend 87, poeta, escritor, dentre tantas facetas. Desta vez ele bateu um papo com Laura Jannuzzi (que está no Show Música Apresenta) e nos conta um pouco sobre o lançamento do disco, “ondes”.

 

Nathan Itaborahy

 
 


 
 

Entrevista Laura Jannuzzi – CD Ondes

 
 

Laura Jannuzzi lança em março “Ondes”, seu primeiro CD. O nome é sugestivo: o álbum é cheio de geografias. Nele sua própria história, seus quandos. O interiorano – verde – da menina em Palma (MG); o urbano – asfalto – da jovem-mulher em Juiz de Fora (e um futuro gigante Brasil afora). A produção de Nando Costa é precisa; grandes músicos, sensíveis a proposta; timbres contemporâneos; arranjos a favor dos tantos ondes; parcerias e participações iluminadas. Produção fora dos grandes centros sem deixar nada a desejar.

Laura canta doce e firme. “Já veio pronta”. Sua poesia espalha imagens instintivas, revela sua própria natureza: arte como intuição, sentir-e-fazer. Confira o papo com a cantora e compositora.

 
 

Galeria de Fotos

 


 
 

SM: Ondes é um título sugestivo. Dá conta da diversidade de cenários e temporalidades do CD. Quais os ondes e quandos mais marcantes em sua trajetória até aqui?

Tentando entrar no universo do CD, nos ondes e quandos mais importantes: primeiro, Palma (MG) – que é onde eu fiz a maioria das músicas, onde comecei a mexer com música e compor com meu parceiro Pablo Quaresma, que é de lá; enfim, onde tudo começou. Nasci em Palma e morei por lá até os doze anos. Pelo menos uma vez por mês vou a Palma, continuo muito ligada ao lugar; o corpo pede. Mas eu acho que têm algumas músicas do CD que já contemplam esse lado mais urbano, que eu peguei em Juiz de Fora. Eu era mais ligada à uma música verde e hoje em dia isso não é muito claro mais, é uma coisa também mais escura, mais asfalto. Então o Ondes está um pouco nesse meio entre o início em Palma e o hoje em Juiz de Fora, percorrendo esse caminho e também indicando o que tem por vir.

 

SM: Ondes é seu CD de estreia, mas evidencia, além de todo seu talento como cantautora, uma produção madura, com arranjos bem pensados/executados e timbragens cuidadosas. O interior está cada vez mais batendo de frente com as produções dos grandes centros. Um outro Brasil está se apresentando nessa descentralização das produções artísticas. O que e quem dizer deste processo?

O cara desse processo todo é o Nando Costa. Eu tinha gravado duas músicas lá no estúdio [Versão Acústica – São João Neponuceno] e já tinha ficado encantada com o espaço e o trabalho do Nando. Quando o procurei para começar o processo do CD, tinha uma ideia muito rasa do que queria.  Tinha só eu com minhas músicas – voz e violão – e queria gravar. Então ele produziu arranjou do zero as minhas músicas, fez tudo. Chamou a galera toda que ele já conhecia pra tocar, que são os meninos que tocam comigo hoje – João Cordeiro, Marcelo Mattos e a galera toda. Esse disco é a foto desse momento, desse período das primeiras composições até a última. Fui fazendo também durante o processo. A música Ondes nasceu na semana antes de ser gravada e Diário acabei dentro do estúdio. Mas dá pra sentir que são músicas que estão vindo de uma nova leva de composição, coisa de dentro de mim mesmo. Eu penso que o disco tem que ser isso: o registro do momento.

 

SM: É perceptível um certo cuidado poético, textual. Me chama atenção uma espécie de álbum de fotografias (desconexão proposital) em A Liga e em Ondes, onde o verbo parece se fundir, como síntese do movimento do agora. Sinto também a presença de um imaginário da infância no interior (“caroço de milho”, “pique-esconde”, “porta da igreja”). Enfim, o que significa a poesia e a composição pra você? E quais os parceiros nessa labuta?

Meu primeiro parceiro é o Pablo Quaresma – inclusive de A Liga, nossa primeira música. A gente tem uma ligação muito forte. A gente faz música de uma maneira muito incrível: sem pudor. A gente coloca a letra e a melodia que vem, funciona junto. Do disco eu fiz todas as melodias, exceto Blim Blom. Eu não faço poesia solta, eu faço música. Poesia pra mim é associada a música. Tudo que escrevo já penso em ritmo, já tem uma coisa por trás. Em Viagem Astral, por exemplo, melodia e letra nasceram juntas. Compor pra mim é totalmente inspiração. Eu não sento pra fazer música, ela simplesmente vem, um sopro total. Se eu vou fazer é porque algo me despertou; gosto dessas conexões. O lance é deixar sair de início tudo. O que importa é o que veio; se veio é porque tem alguma coisa ali. Deixar vir a ideia crua. Entendo que as vezes fico tempos vivendo coisas e sem compor; quando vou fazer alguma coisa é como se tivesse sintetizado tudo aquilo que passei, mas sem pensar; subconsciente agindo.

 

SM: A imprevisibilidade das harmonias e da estruturação das canções saltam sua criatividade. Dão um frescor de quem está tateando as possibilidades. Um descompromisso com um bom/belo da tradição. Fellini não via filmes, acreditava que outras linguagem o eram de mais valia em suas concepções; não se deixava levar por um certo discurso purista. Podemos pensar isso de você e sua relação com a música?

Eu sigo muito a intuição. As vezes estou fazendo um acorde e o dedo simplismente resvala ali em algum lugar, fica bom e é ali que vai ficar. Eu faço tudo assim. Não sei muito o que dizer, eu faço assim. Realmente, quando eu comecei a fazer as músicas, praticamente não tocava violão. Eu não sabia nem o nome das cordas. Tudo sem estudo, de ouvido. Uma coisa que imagino que fica interessante coloco ali, sem saber se faz sentido. O ouvido é que fala: se faz sentido pra ele a coisa fica. O lance de não ter refrão ou coisa parecida, é bem isso. Quando o Nando pensou os arranjo pegou bem o espírito da coisa, não se preocupou com um padrão. Nesse sentido o disco é bem minha cara.

 

SM: No livro Narciso e Goldmund (Hermann Hesse), Goldmund se vê em frente a um escultura de madeira de uma Madona. Ele a prende. Nela nem bom, nem ruim. Nem tristeza, nem alegria. Nela não havia caricatura. Havia uma espécie de complexidade que representa a complexidade humana. Nela tudo. Sinto isso ouvindo Ondes: uma diversidade de sentimentos, estéticas, atmosferas; inclassificável, conversando com opostos, revelando a verdade das suas sensações no mundo. Ouvi o CD várias vezes seguidas, afinal, doçura equilibrada nunca saceia. Em Blues Mirim, por exemplo, o estilo do lamento dos negros norte-americanos é veículo de um discurso sobre uma leveza da sua infância. Uma complexidade de sentimentos que me aproxima de Goldmund de frente à escultura. Até que ponto esse é um movimento pensado?

É totalmente espontâneo. As músicas retratam esse período em que aconteceu uma revolução na minha vida. Passei na faculdade, larguei a faculdade, passei a trabalhar com música. Então esses altos e baixos que você percebe no disco são reflexo do movimento da minha vida. Mas não foi nada pensado; aconteceu. Além disso, dentro das oportunidades que existiam aqui, busquei o melhor para esse trabalho, da arte gráfica ao estúdio. E gostei muito do resultado, eu gosto de escutar o disco e isso me deixou muito feliz, orgulhosa do trabalho.

 

SM: Como vai ser o trabalho com o CD? Perspectivas, divulgações, espaços…

A ideia agora é conseguir espalhar o trabalho, lançar o disco em Juiz de Fora e procurar outros lugares para tocar, divulgar, vender os discos. O disco vai estar no Spotify e todas essas plataformas. O clipe de Descompasso está também no Youtube. Então o lance é espalhar virtualmente e conseguir tocar.  Quero conseguir trabalhar em outros lugares, rodar por aí.

 

O lançamento aconteceu no dia 10 de março no Café Muzik. A apresentação teve a participação de Juliana Stanzani parceira na música Diário, e do Márcio Guelber que gravou acordeon em duas músicas do CD.

 
 

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